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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

SALVADOR: Secretário de Justiça alerta Jurandy para que não ande sozinho


As mãos e a cabeça deixadas em Campinas de Pirajá, o tronco e os membros enterrados em São Bartolomeu, as tatuagens arrancadas, o corpo queimado. Quem matou Geovane Mascarenhas de Santana, 22 anos, fez de tudo para dificultar a identificação dos seus restos mortais. Em entrevista coletiva, ontem, a direção do Departamento de Polícia Técnica (DPT) até conseguiu explicar como essa identificação se deu. Mas, e a causa da morte de Geovane? Isso, a perícia ainda não consegue responder.
Paulo Peixoto, Iraci, Elson e João Paulo: equipe do DPT explica trabalho de identificação e perícia em corpo (Foto: Amana Dultra)
É que faltam exames complementares. Depois de uma bateria de análises papiloscópicas (impressão digital) e de DNA, os peritos do DPT chegaram à conclusão definitiva de que todas as partes do corpo encontradas pertencem a Geovane. Só não se sabe ainda se ele morreu decapitado ou foi queimado antes de morrer. Ou seja, Geovane pode ter sido queimado vivo e só depois esquartejado. “Decapitado ele foi. O que não posso dizer é se a decapitação foi feita antes ou depois da morte. Carbonizou primeiro ou decapitou primeiro? Isso eu vou dizer no laudo final, após exames complementares”, afirmou o médico legista Paulo Peixoto, coordenador de antropologia forense do DPT. 
Como o CORREIO revelou na quarta-feira passada (13), Geovane desapareceu no dia 2 de agosto, após uma abordagem policial no bairro da Calçada. Imagens em vídeo que o próprio pai do rapaz conseguiu mostram a vítima sendo abordada e colocada no porta-malas de uma viatura da Rondesp, por volta de 17h. Geovane nunca mais foi visto.
Depois de Jurandy denunciar o fato ao CORREIO, partes do corpo foram encontradas pela polícia em locais diferentes, dois dias depois da publicação da primeira reportagem.

Corrida
Apesar da confirmação de que uma mão achada em Campinas de Pirajá era de Geovane, o pai não reconheceu o resto do corpo no IML, já que não existiam tatuagens. Aí o DPT iniciou uma corrida para comprovar a teoria de que tudo pertencia a um corpo só.
Outra bateria de exames de nomes difíceis foi realizada. “A pergunta era: se aquela mão pertence a Geovane, aquele tronco e aquela cabeça pertencem ao mesmo corpo da mão? Fizemos exames de tanatologia, depois de antropologia forense, de anatomia patológica, de necropapiloscopia e, finalmente, de DNA. Agora não há dúvida. O corpo é de Geovane” confirmou o diretor geral do DPT, Elson Jefferson.

O corpo, aliás, está liberado. Seu Jurandy pode providenciar o sepultamento. “Eles me disseram que fique à vontade para retirar, mas vamos retirar no domingo para o sepultamento”, disse o pai de Geovane. O sepultamento será realizado em Serra Preta. 
 
O perito Paulo Peixoto confirmou que Geovane não foi alvo de tiros. Em todos os exames de radiologia feitos no corpo, na cabeça e nas mãos, não se levantou hipótese de uso de arma de fogo. As próprias tatuagens do rapaz, uma delas em homenagem a Jurandy, foi arrancada com instrumento cortante. “O mais provável é que essas lesões tenham sido feitas para dificultar a identificação”, explicou Peixoto.
 
Desde o início, o DPT tinha certeza de que a mão encontrada pertencia a Geovane, apesar de ela estar parcialmente carbonizada. O primeiro exame foi feito a partir de um fragmento de impressão digital. “Houve um tratamentos das papilas dérmicas porque estavam parcialmente carbonizadas. Aí se conseguiu coletar o fragmento do polegar esquerdo. Comparamos a impressão coletada com as impressões digitais da ficha da pessoa e deu positivo”, explicou Iracilda Santos, diretora do Instituto Pedro Melo. “Esse exame é 100% conclusivo. Porque não existem duas digitais iguais”, garantiu.  
  
A direção do DPT explicou também por que o exame de DNA saiu tão rápido, em apenas dois dias, sem que fosse necessário coletar material de familiares. A identificação anterior da mão facilitou o DNA, disse João Paulo de Oliveira, coordenador de genética forense. “Tendo a informação de que a mão pertencia a Geovane, então o DNA comparando cabeça, tronco e mão ficou mais fácil, não sendo necessário encaminhar parentes para exame. Isso fez com que o resultado saísse mais rápido”.

Secretário de Justiça alerta Jurandy para que não ande sozinho
O secretário interino de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Estado (SJCDH), Reginaldo Silva, alertou ontem o pai de Geovane, o comerciante Jurandy Silva de Santana, a “ficar alerta”. Jurandy foi recebido ontem de manhã.
Jurandy (centro) ouve orientações do secretário Reginaldo Silva (esq.) (Foto: Evandro Veiga)

“A orientação é evitar andar em lugares públicos a qualquer hora. Quando voltar para casa, não voltar pelo mesmo caminho sempre, procurar não sair à noite e não andar sozinho”, explicou o secretário. “Ele precisa vigiar porque nem sempre quando vem o fato existe a ameaça antes. É preciso que fique em alerta a qualquer situação, a qualquer olhar diferente”, completou.

Segundo o secretário, foi necessária a confirmação da morte de Geovane para que a secretaria procurasse a família para incluí-los num programa de proteção. “Pela experiência, acontece um fato desse e a gente já sabe que a pessoa é, automaticamente, ameaçada.  A secretaria vai continuar acompanhando ele até depois do sepultamento”, garantiu. 

O programa de proteção inclui a família e testemunhas. “O programa implica algumas alterações na vida da pessoa: não pode ficar em bar, não pode ter acesso a redes sociais. É para preservar a vida dele”, esclareceu o superintendente de Direitos Humanos, Ailton Ferreira, que também participou do encontro. 

Caso Jurandy receba alguma ameaça, ele já pode receber auxílio da secretaria e ser deslocado para um local mais seguro. “Qualquer coisa, a gente tem que tirar ele do perigo e colocá-lo num albergue, num hotel. E se for necessário até fora da cidade. Mas, para isso, ele precisa dizer”, explicou Ailton Ferreira.

Apesar da repercussão do caso, Jurandy afirmou que não sofreu nenhum tipo de ameaça explícita e, que, por conta disso, não pretende ingressar no programa de proteção. “Eu não vou mudar minha vida, a não ser que eu seja ameaçado mesmo, se pegar uma arma e apontar para mim”, disse. “Deveria me assustar? Eu estou sendo vítima, eu vou ser vítima de novo?”, completou.

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