Documentos apreendidos pela Polícia Federal e imagens captadas por câmeras de segurança mostram quem são os parlamentares que mantinham relações diretas com Alberto Youssef
Rodrigo Rangel
Collor: a PF encontrou no escritório do doleiro Alberto
Youssef, em São Paulo, comprovantes de depósitos bancários feitos na
conta do senador
(Ed Ferreira/Estadão Conteúdo)
Preso há dois meses, o doleiro Alberto Youssef ainda não pronunciou
uma única palavra sobre seus negócios escusos, muito menos sobre os
parceiros influentes que o ajudaram a montar o império que movimentou
bilhões de dólares no Brasil e no exterior. Na hora em que ele resolver
falar — se é que isso um dia vai acontecer —, um pedaço do Congresso
Nacional certamente vai ruir. No mensalão, o esquema de corrupção
montado pelo governo petista para comprar apoio político, parlamentares e
assessores formavam fila no caixa de uma discreta agência do Banco
Rural situada em um shopping de Brasília. O suborno era pago ali, sem
muita cerimônia. Os políticos ou seus assessores chegavam,
identificavam-se, recebiam o dinheiro e saíam tranquilamente. Foram
descobertos porque deixaram suas assinaturas em recibos e pelos
registros do sistema de segurança do prédio. O escândalo, como se sabe,
levou os principais personagens à prisão — mas a experiência não impediu
mais uma surpreendente parceria, inclusive financeira, entre um
criminoso conhecido e respeitáveis congressistas.
O escritório de Alberto Youssef, que funcionava numa área nobre na
Zona Oeste de São Paulo, era, digamos assim, uma espécie de versão
recente da então discreta agência brasiliense do Banco Rural. A base de
operação do doleiro era também ponto de peregrinação de políticos de
partidos sabidamente envolvidos em tramoias financeiras. As
investigações já revelaram que empresas-fantasma controladas por Youssef
recebiam em suas contas inexplicáveis depósitos milionários de algumas
das mais importantes empreiteiras do país. O dinheiro que entrava de um
lado, por meio de contratos simulados de consultoria, saía por outro na
forma de repasses a políticos e partidos. Os mesmos políticos e partidos
que indicavam os apadrinhados que contratavam as empreiteiras
pagadoras. É desse triângulo equilátero da corrupção que emergem os
clientes mais vistosos do doleiro. VEJA obteve os registros do prédio
que durante anos abrigou o escritório de Youssef. A lista tem mensaleiro
preso, assessor de ministro e deputados — vários deputados.
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